Um dos objetivos do Instituto Nawá é levar projetos de sustentabilidade às aldeias indígenas do Brasil.
Nossa inspiração são projetos-piloto já implementados na comunidade Ni Yuxibu, no estado do Acre.
Estes projetos foram idealizados e concretizados por um grupo de amigos e guardiões da floresta, do qual fizemos parte.
Queremos, agora, replicar e ampliar ações semelhantes em parceria com empresas, doadores e voluntários.
A comunidade Ni Yuxibu sempre utilizou as águas do Rio Taruacá para banhar-se, cozinhar alimentos, beber, lavar roupas e louças e realizar as demais tarefas da aldeia. No entanto, isso nem sempre era seguro para eles.
Algumas famílias tinham que caminhar até 1 quilômetro, diversas vezes ao dia, levando panelas, louças e roupas para chegar até o rio. Na época das chuvas, o acesso se tornava perigoso devido aos barrancos enlameados e às correntezas, provocando acidentes. Por outro lado, na época da seca, o rio tem seu volume diminuído drasticamente devido à degradação ambiental.
Mais grave ainda eram as contaminações que chegavam a matar algumas crianças e idosos, já que o rio é margeado por fazendas e poluído por combustível de navegação e resíduos químicos.
O Projeto Água nasceu com o intuito de levar mais qualidade de vida à aldeia Ni Yuxibu.
Em uma primeira etapa, foram instaladas caixas d’água e calhas para captação de água da chuva. Porém, na época da seca os Huni Kuin continuavam sem água limpa para beber.
Foi então que o Cacique Shane encontrou um olho d’água em uma de suas caminhadas, possibilitando a instalação de dois poços com sistema de bombeamento. Foi instalada uma ampla rede de distribuição com mais de 3 quilômetros de encanamentos, e hoje existe água limpa dentro de cada casa da aldeia.
No entanto, este projeto gerou a necessidade de uso de energia elétrica para o funcionamento das bombas, o que trouxe uma nova demanda em termos de sustentabilidade. O Projeto Água está, portanto, entrelaçado com o Projeto Vagalume, descrito abaixo.
Um dos sonhos do Pajé Txana Ixã era trazer uma fonte de luz à aldeia. Isso era de suma importância econômica para a comunidade. À luz do dia, as famílias ficam envolvidas com os afazeres diários como plantar, colher, cozinhar, cuidar das crianças, das casas e da organização e manutenção da aldeia.
Quando o sol se põe, o calor e os mosquitos dão sossego e as crianças vão dormir. As atividades do dia já foram encerradas e é quando os homens e mulheres encontram tempo para se dedicar ao artesanato que simboliza sua cultura e tradição.
Porém, o uso de velas frequentemente provoca acidentes e pequenos incêndios, enquanto o uso de pilhas para lanternas gera lixo tóxico para a floresta.
Geradores são fontes de poluição atmosférica e trazem um custo inviável às aldeias devido ao alto valor do combustível na região.
Entre 2016 e 2017, uma conexão entre uma empresa de energia solar e um grupo de amigos levou energia limpa e segura para uma parte da aldeia. Os Huni Kuin foram, ainda, capacitados a estender o projeto para toda a comunidade e para aldeias vizinhas conforme a entrada de recursos.
A ampliação da capacidade de captação de energia solar tornaria possível o bombeamento da água do poço instalado no Projeto Água e transformaria a aldeia em uma usina geradora de energia para a região.
A chegada da luz possibilitou o resgate do artesanato ancestral: peças em miçanga, madeira, máscaras e instrumentos musicais, entre outros, hoje colaboram no sustento da comunidade.
“O povo Huni Kuin há tempos atrás não tinha luz na aldeia. Estamos querendo trazer para dentro da nossa área. O tempo atrás nosso ancestral não tinha essa lâmpada, essa luz que ilumina a aldeia, só existia o fogo, a faixa de fogo. Por isso criamos na aldeia o projeto chamado Vagalume que ilumina a noite, quando a noite chega como se fosse vagalume, vai iluminar tudo. Com a ajuda de Bari Yuxibu que se chama Sol, com a força do Sol para fazer luz, não é gerador não, se for gerador quebra peça, falta combustível. Eu estou querendo trazer energia solar para poder trabalhar bem na floresta, não poluir a floresta, estamos querendo energia solar na aldeia para todo mundo ficar feliz, durante nossa vida nunca tive essa oportunidade de ter luz, dessa vez estou querendo ajuda de todos parentes que possam me ajudar a levar essa luz na minha aldeia Altamira.” – Pajé Txana Ixã, líder da aldeia Ni Yuxibu
Permacultura significa “cultura permanente” e é um sistema de princípios agrícolas e sociais desenvolvido
de maneira autossuficiente e que não explora ou polui
o meio-ambiente, possibilitando um futuro sustentável.
Esta ideologia surgiu de uma nova forma sistêmica de pensar o uso do solo – interligado ao clima, vegetação, animais, ciclos de nutrientes, gestão de água e necessidades humanas.
Desta maneira, a permacultura é considerada uma
ciência social e ambiental, já que une o conhecimento científico tradicional ao popular para garantir a permanência da espécie humana na Terra.
Na prática, a permacultura propõe que observemos as atividades agrícolas e humanas dentro do contexto ambiental em que estão inseridas, ou seja, levando em consideração o uso de recursos renováveis, a otimização do uso do solo, a capacidade de responder a mudanças, a minimização de resíduos e do desperdício.
Algumas das soluções propostas pela permacultura incluem o uso de banheiros secos, a compostagem de lixo orgânico, a instalação de minhocários e novos padrões para implementação de hortas e canteiros.
A partir de 2016, o projeto piloto Permacultura na Floresta desenvolvido na aldeia em Ni Yuxibu abraçou ações como a instalação de banheiros secos na comunidade, a adoção de filtros naturais, o uso de tijolos de barro, a compostagem e a diversificação das sementes utilizadas na agricultura de subsistência.